quinta-feira, 2 de junho de 2011

Da forma dos deuses: Terra

Quando a vi pela primeira vez, lembrei dos ensinamentos do deus Ar. Tinha uma beleza diferente, exótica. Seu semblante era dúbio, hora delicado como uma mulher e hora forte como de um guerreiro. No decorrer de sua pele, que tinha a cor do crepúsculo, enxerguei rachaduras, lembrava bastante um solo árido. Tinha um corpo que não devia em nada para o deus Fogo.

“Assustado?”. Ela me perguntou isso com um sorriso nos lábios. Como se soubesse que não tinha a bela forma da deusa Água.

Respondi que não, claro. Deus Ar havia me ensinado algo, e eu não esperava repetir esse erro novamente. E acho que ela gostou de minha resposta, o que me fez ver que os deuses possuíam vaidades, tais quais os homens.

“Sou a última que verá e não terei nada a ensinar”.

“Só tenho a agradecer pelo tempo seu e dos seus irmãos”. Fiquei feliz com essa afirmação, era verdadeira e muito oportuna.

A deusa Terra veio caminhando no vazio até mim, e colocou seu rosto próximo ao meu. Pude ver seus olhos castanhos fortes, que demonstravam seriedade e compaixão ao mesmo tempo. Os cabelos eram grossos, embolados. Pude finalmente notar, através do seu olhar, a sua personalidade inocente .

“Amamos vocês, pequeninos”.

E assim ela me deixou, acordei. Realmente não me ensinou coisa alguma, mas me deixou algo mais importante: O amor dos deuses.


------- Trecho de "Duros Sentimentos", Crônicas de Bach Menestrl -------

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