terça-feira, 24 de maio de 2011

Da forma dos deuses: Fogo

Dos quatro deuses, claramente se mostrou o mais poderoso. Seus dedos inquietos soltavam fagulhas coloridas que enfeitavam os céus em forma de estrelas.

No rosto havia uma confiança que nunca vi em homem algum, e sorria para mim de forma que me fazia sentir um ser igual a ele, nem inferior ou superior.
“Gosto das sombras”. Falou. “Elas me fazem ver como as obras que crio possuem certa utilidade”.

Ele iluminou seu corpo em chamas multicoloridas e pude perceber que era moreno, talvez pela constante exposição às suas criações. Lembrava um guerreiro vigoroso, que combinavam com os traços fortes do rosto. Se fosse um homem, sua beleza com certeza colocaria muitas mulheres aos seus pés. Seus cabelos curtos lembravam chamas de fogueiras que nunca se apagavam.

Ele colocou em mim seus olhos incandescentes e eu soube que era hora de fazer meu questionamento.

“Qual a razão de nossa existência em Senna?”. Perguntei.

“Simples e direto como todo jovem”. Ele sorriu como se já soubesse da pergunta. “Todo ser humano é um adubo para o solo da Árvore da Vida”. Ele voou rapidamente até mim, e colocou seu dedo indicador em minha boca. Sabia que eu estava próximo de fazer uma pergunta.

“Uma pergunta! Somente ela.Estou impossibilitado de responder mais que isso. Mas não diga que a árvore da Vida teve seu fim. Apenas acredite nela, como acredita em você. A raça humana é o adubo para ela e os frutos são suas ações. Não há punição se você agir de forma bondosa ou maldosa, mas conseqüências. Se você for bom, aproveitará do fruto mais doce da árvore. Se for mal, só provará um sabor amargo.”

“Não tive minha resposta”. Falei contrariado, era jovem e impulsivo quando me encontrei com deus Fogo.

“Eu digo que a teve”. E como os três outros deuses, ele me deixou com um sussurro.

Quando acordei, meu coração batia no peito, irritado, constrangido, sentindo-se enganado. Hoje ele bate calmo, alimentado pela sabedoria acumulada ao longo dos anos. Minha mente se encontra livre e sim, ele havia realmente me respondido.


------- Trecho de "Despertar nas Chamas", Crônicas de Bach Menestrl -------

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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Da forma dos deuses: Água.

Da forma dos deuses: Água.

Nenhuma deusa é tão controversa quanto a deusa Água. Enquanto seu corpo mais parecia uma rosa em seu auge, sua personalidade demonstrava-se espinhosa como o caule da flor.

Pelo menos era isso que eu tinha em mente.

Ela veio caminhando até mim graciosamente e seu olhar penetrava minha alma, fazia evaporar meu sangue. Foi a primeira vez que me vi apaixonado, e não havia como ser de outra forma. Seus braços envolveram meu pescoço e de perto pude ver as duas cores de seus olhos, verdes e azuis, assim como os mares que banham os pés e aliviam a sede das criaturas em Senna.

Seus cabelos negros como o mais profundo dos oceanos, cascateavam pelos ombros,esses cobertos por um manto branco. Ela tinha o doce cheiro do mar, e me senti como um pescador, pronto para desbravar mares nunca antes navegados.

Ela sorriu discretamente e sua risada tinha sons de ondas ao encontro das rochas. Não precisei fazer minha pergunta, ela lia meus pensamentos como um livro aberto.

“Eu sou a criação de tudo. Dei vida aos humanos e todas as raças de Senna. Traí meus irmãos em nome de vocês. Alivio a sede e dou alimento. Porém, sou tratada com desprezo, odiada pela traição causada ao meu irmão fogo, que é venerado por vocês, e que some, a cada nova noite.”

Dito isso, sussurrou em meu ouvido para que acordasse.

Levantei com o pensamento de ingratidão humana. Nesse tempo, eu era um dos que visitavam o templo do deus Fogo, pedindo para cada novo amanhecer. Esqueci de que estava respirando, única e exclusivamente por causa da deusa Água, mãe de toda a Vida.

Uma pena só eu ter ouvido as palavras da deusa, e poucos nos dias atuais, acreditam em minhas visões que aqui vos escrevo. Ainda hoje, a deusa Água é esquecida pela raça humana.



------- Trecho de "Doce Cheiro de Mar", Crônicas de Bach Menestrl -------

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Da forma dos deuses: Ar.

Da forma dos deuses: Ar.

O primeiro que veio até mim foi o deus Ar. Digo “O”, pois possuía uma aparência claramente masculina, porém, custou-me a perceber isso. Em meus sonhos o vi voando de um lado a outro pelo Infinito do Nada. Cada vez que passava perto de mim, eu enxergava um vulto embaçado, branco como os orvalhos da manhã. Percebi que era inquieto e brincalhão, pois a cada nova volta que dava em torno de mim, risadas explodiam no rastro que deixava.

E mesmo quando ele me encarou, não o vi ficar quieto. Seu corpo tremia harmonicamente e sem forma. Não pude ver medo, nem cansaço, mas parecia que ele estava louco para voltar a voar pelo infinito do nada.

Foi então que sorriu para mim, um sorriso de garoto sapeca, sua boca era larga demais para o rosto esbranquiçado. Não havia pupila nos olhos, apenas uma órbita branca e vazia. Seus longos cabelos cobriam o corpo informe.

Quando o perguntei se todos os deuses eram iguais, ele inclinou seu rosto trêmulo e o sorriso desapareceu.

“Querido humano, por qual motivo gasta sua única pergunta comigo em uma crítica de tantos outros? Minha natureza é inquieta, não pude aceitar o presente do deus Terra e por isso, meu corpo está longe de ser parecido com os demais.”

Novamente ouvi as risadas, ele voou e eu acordei.

Estava arrependido da pergunta que fiz. Gastei meu único momento com o deus Ar em algo que não trouxe acréscimo ao meu espírito. Se eu estava ali, era porque fui merecedor, mas me portei futilmente, perdi meu tempo afogado nas críticas de alguém diferente de mim. No decorrer da vida, pude perceber que as pessoas são mais que uma simples casca, o interior, este sim, imutável e bruto é o que se tem de maior valor.


------- Trecho de "Sonhos ao Vento", Crônicas de Bach Menestrl -------

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terça-feira, 10 de maio de 2011

Da criação dos deuses

A partir de hoje, começarei uma série de posts que contarão o início dos tempos em Senna, o mundo em que se passa as histórias de "Destino e Honra. Espero que gostem.


No início nada havia. Energias transitavam como serpentes coloridas nadando em um tanque de água sem fim. Uma energia alaranjada que descobriu primeiro que era capaz de iluminar o ambiente. O que era escuridão e frio, ganhou acalento e novas cores. Fagulhas maravilhosas saiam dessa criação e pela primeira vez, as energias acreditaram em Vida. Outras três energias se aproximaram da alaranjada e pareciam sorrir, embora não houvesse expressão nelas, existia um brilho incomum.

Subitamente, uma energia marrom, deu corpo ao que chamou de irmãos. Cada cor, ganhou um corpo parecido com o dos humanos atuais, porém eram belos e puros, salvo de qualquer defeito proveniente do pecado.

Os humanos passaram a chamar essas energias de deuses, e deram nomes a eles: Água, Ar, Fogo e Terra. E o lugar onde passaram a morar, se chamou de “Infinito do Nada”, onde as fagulhas viraram estrelas cantantes e a paz era quebrada apenas pelo sorriso e brincadeiras destes seres poderosos.


------- Sacratu para leigos, biblioteca de Eixeh -------


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