segunda-feira, 16 de maio de 2011

Da forma dos deuses: Ar.

Da forma dos deuses: Ar.

O primeiro que veio até mim foi o deus Ar. Digo “O”, pois possuía uma aparência claramente masculina, porém, custou-me a perceber isso. Em meus sonhos o vi voando de um lado a outro pelo Infinito do Nada. Cada vez que passava perto de mim, eu enxergava um vulto embaçado, branco como os orvalhos da manhã. Percebi que era inquieto e brincalhão, pois a cada nova volta que dava em torno de mim, risadas explodiam no rastro que deixava.

E mesmo quando ele me encarou, não o vi ficar quieto. Seu corpo tremia harmonicamente e sem forma. Não pude ver medo, nem cansaço, mas parecia que ele estava louco para voltar a voar pelo infinito do nada.

Foi então que sorriu para mim, um sorriso de garoto sapeca, sua boca era larga demais para o rosto esbranquiçado. Não havia pupila nos olhos, apenas uma órbita branca e vazia. Seus longos cabelos cobriam o corpo informe.

Quando o perguntei se todos os deuses eram iguais, ele inclinou seu rosto trêmulo e o sorriso desapareceu.

“Querido humano, por qual motivo gasta sua única pergunta comigo em uma crítica de tantos outros? Minha natureza é inquieta, não pude aceitar o presente do deus Terra e por isso, meu corpo está longe de ser parecido com os demais.”

Novamente ouvi as risadas, ele voou e eu acordei.

Estava arrependido da pergunta que fiz. Gastei meu único momento com o deus Ar em algo que não trouxe acréscimo ao meu espírito. Se eu estava ali, era porque fui merecedor, mas me portei futilmente, perdi meu tempo afogado nas críticas de alguém diferente de mim. No decorrer da vida, pude perceber que as pessoas são mais que uma simples casca, o interior, este sim, imutável e bruto é o que se tem de maior valor.


------- Trecho de "Sonhos ao Vento", Crônicas de Bach Menestrl -------

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